Testemunho sobre “Os Índios da Meia Praia”

Testemunho sobre “Os Índios da Meia Praia”

 

A Editora Companhia das Letras pediu-me que escrevesse sobre a pintura escolhida para a capa do livro de Stênio Gardel, “A Palavra que Resta”.

A reação do público foi fantástica e é maravilhoso ver o carinho que o livro e a minha pintura reuniram.

Fica aqui o depoimento original e o link da publicação no Instagram da Editora Companhia das Letras:

“A obra Os Índios da Meia Praia pede o título emprestado a uma música de Zeca Afonso e a um acontecimento na cidade de Lagos, no Algarve (Portugal). Na década de 50 muitos pescadores chegaram a essa cidade para trabalhar, mas como não havia habitações para os acolher tiveram de viver em cabanas de colmo nas dunas da praia. Quando se deu o 25 de Abril (a Revolução dos Cravos, 1974) restavam poucas cabanas e o bairro tinha-se transformado em barracas de zinco. Para melhorar as condições de habitabilidade, o  novo governo implementou as Operações SAAL dando o terreno, apoio técnico e dinheiro. As populações contribuíam com a mão-de-obra para a construção das suas próprias casas. Em Lagos as famílias organizaram-se por turnos: enquanto os homens iam pescar, as mulheres ficavam responsáveis pelas obras, todos ajudavam na construção de todas as casas, todos construíam um bem comum.

Esta pintura faz parte de uma série que se intitula “Os construtores de mundos” que reflete um desejo de fraternidade e de acção conjunta. Relembra o tempo da infância em que construímos castelos na areia até ao pôr do sol, em que colecionamos conchas de cores maravilhosas e listas de palavras que fazem cócegas na língua. Um tempo em que tudo é possível! As crianças da imagem são os meus filhos, numa tarde em que brincávamos numa praia com nome de outra música…a ilha do Pessegueiro.

As minhas pinturas geralmente têm várias histórias dentro de si  e contam-nas misturando-se com as histórias de quem as vê. Quando Stênio escolheu esta pintura para capa do seu livro, fiquei muito feliz: a minha história iria unir-se a outra. – Daniela Reis, Maio 2021″